Folhas molhadas

...e assim... passei por você tão rapidamente que nem eu mesma soube, quando passei, quem eu era...

As luzes dos carros que corriam por mim

me deixavam um pouco zonza
Chorava por amor?
Era uma dúvida que eu mesma precisava responder, mais ninguém

Seria tolice ou dádiva?
Me questionava incansavelmente sobre a cena, como se pensar no fato resolvesse ou alterasse a situação

Cena, era isso, uma dessas cenas de cinema, as lágrimas rolavam pelos olhos mortos,
estes olhavam pra algum lugar perdido; entre o que se enxerga e o que se imagina;
imaginei uma filmadora em plano detalhe focando em meus dedos,
ora em meus olhos,
ora em você, me olhando de longe

Sem relação nenhuma com o choro, como se ele não representasse tristeza, mas espanto, passei os dedos pela face,
eles se molharam...
A mensagem veio subitamente
Aproveitei a água pra trocar energia com as plantas
Criei uma troca, um pedido que soava como um
"vá, leve, tire, suma, passe, mude, altere, transmute"

Lá fui eu, com os dedos cheios de lágrimas, molhar um jardim com meus sentimentos
Os dedos corriam pelas folhas da árvore solitária em meio as ruas lotadas de olhos curiosos
Acariciava você..
passei a conectar-me naquele momento e percebi, nada mais havia a minha volta, estava sozinha, mesmo que acompanhada de olhos cheios de curiosidade, pena, horror, satisfação e frustação

A noite estava linda! Apesar do fato...

Voltei-me de repente a mim mesma
Estava no meio da calçada, sozinha,
todos me olhavam..havia retornado do meu universo paralelo

Amar seria então algo curioso ou ridículo?
Acho que as duas coisas
De súbito me viro e tento andar, é preciso sair, estou parada no mesmo lugar já ha algum tempo,
as pernas não se movem
Agora, enquanto escrevo revejo a cena, mesmo que alguns quilômetros e meses distantes
Sinto-me próxima a seus olhos, como se eu ainda estivesse lá!
Falarei com as árvores de novo, faz tempo que não conversamos mais intimamente.