--------- Tudo que fazemos na vida é o encontro -----------

Ela andava em meio a praia deserta e sabia de seu caminho, sentia cheiro de rosa branca misturada com jasmim e isso lhe dava um doce ar de liberdade, como se fosse uma libélula! Tinha os cabelos lisos, soltos, com leves ondas que balançavam com seus passos delicados.
Possuía um diferencial nos olhos, encarava os seus.
Ela olhava profundamente, pra quem mente e pra quem engana a si mesmo. Sabia perfeitamente o que sentiam tais seres. O mesmo que afligia a ela, afligia tantos outros ali, logo ao seu lado, como se ao alcance de suas mãos finas e leves, que soavam contraditórias, com tamanha força.
Sabia ela que seguia sozinha, essa essência da vida lhe era cara, um tanto seca, áspera, algo que procurava não pensar, pois, lhe valia mais a liberdade da solidão.
Seus pés, contornos de dedos conhecidos, era um algo que reunia em si um pouco de tantas Marias, Alices, Amélias, Marinas, Joanas, Carolinas, Michelles, Andréias; assim era ela, um pouco de tudo, uma confusa mistura de partes.
Andava identificando-se, a si mesma, a cada dia, a cada passo. Provou da vida um pouco de tudo, olhava pro caminho percorrido, longo espaço das largas passadas rápidas, andava pra achar o caminho, só esquecia o destino, pois, na verdade, o construía, a cada minuto, como aqueles tantos outros seres que por ali passaram.
Pensava nisso, nas pegadas que via ao chão, tão raras por ali.
Por ali quase ninguém passava, e isso, lhe era motivo de orgulho - achar aquele algo que ninguém pareceu notar - apreciava isso, essa exclusividade de pensamento, tão coletivo mas, tão só, por tantas vezes.
Essencialmente se sentia poeta, se sentia como plumas esvoaçantes, e seguia assim, pensando a cada momento na solidão maltratada, que por ela, era espezinhada como algo que não cabe em seu coração.
Assim, seguia forte, lembrando ao certo, era talvez mais só do que desejava, mais só do que pensava, e isso, era sua própria opção.
Não aceitava pela metade, queria inteiro, não parecia que poderia viver a cantar algo sem musicalidade.
Cruzava com alguns seres, olhavam-se, curiosamente, perguntavam-se simultaneamente, se estavam no lugar certo. Pareciam códigos, olhares com o mesmo sentido, com a mesma dúvida, com a mesma vontade.

Por  vezes, entregava-se, mas sabia, o seu primeiro amor havia de ser ela mesma!

Continuava serena, seguia tranquila, passava por ondas, por pequenas entradas de água doce com a salgada
Olhava o mar, atentamente
Viu seu próprio rosto, seus contornos, seu dorso
pensou nas formas, no corpo
na ausência de toque - que por tempos não sentia
passaram-se anos sem que ninguém acariciasse seu corpo,
nem por carinho, nem por amor
Apenas por desejo
E só por isso, ela seguiria, precisava encontrar-se
Sabia, já em tempo, que aquele corpo nem era seu
Era pra ela cuidar, sentir, amar e aproveitar cada minuto da sua existência
Pra aprender, ser e viver, com alegria, com prazer, com paz, com espírito solto, sem peso
sem nada que cale ou que pese, nem mesmo suas roupas, que já não lhe serviam mais
Algo mais leve queria nascer em si, ela sentiu o seu chamado, era o seu momento, talvez, errado, mas, quem poderia julgar?
Ela sabia naquele momento que tudo que fazemos na vida é o encontro
Ela sabia que o tal danado estava dentro, o tempo todo, por isso, podia seguir a qualquer lugar
Cada um seria sua casa, cada um seria um lugar novo a se aventurar, porque precisava sentir a dor do outro, a vida, o que eram as lutas, a paz, a guerra, os costumes em sua raiz, as verdades das ruas, a janela da vizinha, que parece falar sozinha,
O sorriso das crianças.
Tinha ela medo de sentir algo que a fizesse ficar, não pensava em prosseguir estática, precisava mudar sempre, e principalmente naquele momento
Seguiu andando, a noite virou dia, o Sol começou a clarear sua trilha, tão perfeita imagem.
Algo que vinha com o brilho das águas, trazia tons laranjas, amarelos, azuis, vermelhos - misturava texturas, lembrava loucuras, manhãs de amor...
Caía uma lágrima de seus olhos, sabia, seria um longo dia.
Olhou ao Sol atentamente, como quem encara e imaginou que alguém, cujo seu pensamento voltava-se sempre, também sentiria o calor do seu corpo assim como ela o sentiu presente quando o Sol a abraçou naquela manhã colorida!
Isso era sincero.

Assim, ela entendeu - como o Sol, ele brilha sempre...

Conseguia sentir seu calor, ao longe, tantos passos distantes de seu corpo...

Com isso se recordou - existe tanta distância e tanta presença!

Como uma perfeita dualidade de opostos sentimentos,

Tão complementares!

       Yin Yang

-------------------Tudo que fazemos na vida é o encontro---------------------

Comentários

Postagens mais visitadas